Não é a primeira vez que escrevo
sobre esse momento final do ano letivo. Aliás, ultimamente não tenho escrito
quase nada, a não ser quando estou tão estressado que apenas o desabafo nos
teclados aliviam a tensão.
Primeira
coisa que me irrita: o professor passou o ano inteiro com o aluno e avaliou
todo este tempo se ele está apto a progredir em sua disciplina. Quando o
discente não atinge a nota, fazemos uma reflexão levando em conta vários aspectos.
Se achamos que ele tem condições de seguir adiante, damos uma ajuda e fim de
papo. Caso contrário, fim de papo também. Só que não! No Conselho de Classe
irritante (como o que acabei de ter) o professor tem que justificar o que levou
o aluno a ser reprovado, quase como se ele tivesse no banco dos réus se
defendendo. Sei que existe professores e professores, mas quando você tem
consciência do trabalho que faz (e a equipe diretiva/direção conhece bem) é
profundamente humilhante esta posição. E mais, se a preocupação é com o
aprendizado do aluno, por que passar o ano inteiro e deixar pra discutir nota.
É parecido com aquele pai que aparece na escola só em dezembro querendo saber
do professor por que seu filho está com nota vermelha.
Segunda coisa
que me irrita: quando a equipe diretiva/direção (pelos motivos que todos sabem)
insiste em algum aluno, o caso é aberto para o Conselho decidir. Mas como
assim, então um professor de Português tem o direito de aprovar um aluno que
reprovou em Matemática? Então o trabalho que um professor fez ao longo do ano é
jogado fora? Não serviu de nada? Mais uma vez eu faço um parênteses por saber
que existe casos e casos. Não estou falando daquele aluno brilhante que um
professor não foi com a cara dele e por isso o reprovou. A regra do aluno
aprovado pelo Conselho é para casos como esse. Estou falando de situações
normais, ou seja, professores sérios e alunos com dificuldade ou que
simplesmente não cumpriram suas tarefas ao longo do ano (isso sem considerar o
número de chances que os alunos de hoje em dia têm com inúmeras recuperações.
Na rede citada aqui, para cada avaliação há uma recuperação). Enfim, acho
profundamente antiético um professor se intrometer no trabalho do colega e
dizer que um determinado aluno deve passar. Fico explodindo por dentro quando
eu vejo isso acontecer. E o pior é que sempre acontece. Caro colega, tenha algo
em mente: alguns alunos não são os mesmos com todos os professores. E mais
grave do que isso, alguns apresentam dificuldades apenas em certas matérias. Um
aluno pode ter discalculia, por exemplo. Lembro de um destes Conselhos em que
um professor conclamou que eu entrasse no clima natalino e fosse bondoso. É
lamentável ver colegas com tamanha alienação. Nada dói mais na Educação quando
vemos colegas que te conhece como profissional não ficarem ao seu lado em
momentos como este. Pressão da equipe diretiva/direção eu já estou acostumado,
mas fogo amigo é coisa que não suporto.
Terceira coisa
que me irrita: o jeitinho brasileiro presente em cada um de nós. Adoramos
criticar os descaminhos de servidores públicos, sobretudo políticos. Para nós,
isso é uma prática deles, não nossa. Nós somos honestos, seguimos todas as
regras... será? Na Educação , o que não falta é exemplo de práticas nebulosas.
Quem nunca deu um jeitinho para burlar o aulas previstas e dadas? E faltas? No
meu caso, me recusei a dar zero para uma aluna que faltou todas as aulas do
bimestre. Aliás, o sistema (on line) nem aceita neste caso. Pra mim, zero é
nota. Como vou dar uma nota para uma aluna totalmente ausente? Solução da
direção: Tira uma falta da aluna (para mentir que ela veio um dia) que o
sistema vai aceitar o zero. Quando insisti que não faria isso, o diretor me
ameaçou dizendo que minhas notas ficariam pendentes, que eu seria chamado no
recesso e tomaria falta se mantivesse minha posição. Tá né, dinheiro não é tudo
na vida! Tô esperando o desconto...
Enfim, tô
cansado de tudo isso. Foram só duas turmas e amanhã ainda tem mais duas. Isso
só numa escola. Na outra tem oito ainda esta semana. Todo ano é a mesma coisa,
uma sensação de ir para um campo de batalha. Você sai exausto e profundamente
frustrado, seja qual for o desfecho. Tudo isso por quê? Porque o maldito
sistema cobra números, ou seja, aprovações. Todo o resto é apenas isso: resto.
Seja um professor que não reprova e você não será aborrecido. Deviam ensinar
isso nas faculdades de Licenciatura.
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