Faz tempo que
não escrevo sobre Educação. Aliás, sobre assunto algum. Primeiro por motivos
pessoais, mas sobretudo porque deixei de ver utilidade no que eu fazia.
Contudo,
não pense que mudei de ideia. Talvez esse breve texto seja mais um dos meus
desabafos e não tem a intenção de ser um artigo acadêmico. Estou cansado!
Lembro
como se fosse hoje de um encontro que tive com a secretária de educação do
município onde leciono. Alguns dias antes ela havia lido um texto que eu
escrevi e foi publicado no jornal do sindicato local. Eu criticava o sistema
educacional neurótico por números, realidade não só em Volta Redonda (RJ), mas
no Brasil inteiro. Aliás, sistema este copiado de modelos de outros países e
que já se mostraram um fracasso. Eu fechava aquele texto de modo extremamente
pessimista, contrastando com o sentimento de poder mudar, com o qual eu havia
saído da faculdade um pouco mais de um ano antes. A secretária, em algum
momento da conversa/inquisição, me disse em claro tom de deboche que era uma
pena um professor tão novo e que desistiu tão rápido. Naquele ano, sofri
assédio moral na escola, fui transferido algumas vezes, fui parar na sala de
informática e resisti. Afinal, queria provar pra mim mesmo que não desistia tão
rápido.
Passados
7 anos, não tão novo assim, posso afirmar sem temer julgamentos: eu desisti.
Não tenho mais a menor expectativa de mudar o mundo, nem meu país, meu estado,
minha cidade ou até mesmo minha escola. Simplesmente reconheço que não sou
forte o bastante pra remar contra a maré.
Na
escola dos meus sonhos, o aluno é formado para ser feliz e não pra ganhar
dinheiro. Ele desenvolve o respeito e a solidariedade, não a competição. Aprende
a viver em comunidade e percebe que um país rico não se mede com um PIB. Não há
disciplinas mais importantes do que outras. Essa escola tem grupos de teatro,
de música, de vários esportes. Ela se abre para o mundo, recebendo pessoas de
todos os tipos e formações e que possam compartilhar seu conhecimento e experiência
em oficinas, fóruns e seminários. Na minha escola os alunos aprendem Química na
cozinha, Biologia na horta, Geografia e História andando na cidade, Matemática
na feira, Português em rodas de poesia, Artes nos museus, Educação Física na
quadra de skate da praça mais próxima. Sala de aula? Pode ser embaixo da
mangueira, como nos ensina Tião Rocha. A instituição é apenas um meio. O fim é
a Educação.
No
ano passado, desci com uma turma para o pátio por uma aula, após um bimestre
estressante, depois das avaliações, revisões, solução das dúvidas e apenas
aguardando a recuperação, que seria na aula seguinte. Eu iria fazer uma
atividade lúdica com eles, não só pra relaxar, mas para melhorar o
relacionamento meu com a turma e entre eles também. Iria! Fui impedido de fazer
a atividade e tive que retornar para a sala de aula. Eu havia esquecido, ou
queria esquecer, que estava numa escola que cultua aquele ambiente sufocante
entre quatro paredes como o único locus educacional do colégio. Que advoga a
ideia de que mais tempo de aula é igual a maiores resultados, como se os professores
e alunos fossem fabricantes de parafusos.
Poderia
aqui relatar mais inúmeros casos (alguns deles inclusive já viraram artigos e estão
por aí no site) que, juntos, me fizeram declarar derrota. E não coloco a culpa
apenas nos governos e nos diretores. Essa escola massificada, preparatório para
avaliações e formadora de mão de obra para o mercado é o que a maioria dos
professores e pais de alunos também querem. Talvez, de todos os atores
envolvidos na educação, aquele que mais deseja uma nova escola seja o aluno,
que não aguenta mais ficar 5 horas por dia numa instituição que parou no tempo.
Por
fim, vendo a escola de hoje eu não consigo deixar de lembrar de uma vez que fui
ao médico com muita dor no braço e fui atendido por um profissional que em
momento algum olhou pra mim. Preenchia formulários e fazia perguntas. Saí de lá
com uma tala no braço e sem entender como chegamos ao ponto de ter veterinários
mais atenciosos com seus pacientes. Aquele médico uma vez foi aluno e aprendeu
na escola o que exercia em sua profissão. Afinal de contas, para ser um bom
aluno basta ser bom no conteúdo. Por que para ser um bom médico seria
diferente? Também me lembro do Sérgio Naya, aquele engenheiro que construiu um
prédio com areia da praia. Era um bom aluno em Matemática, certamente, e quem
sabe até ganhou uma medalha em uma destas Olimpíadas. E os políticos? Como bom
oradores, talvez fossem bons alunos também. Mas de que vale estes conhecimentos
se não são acrescidos de valores? Respeitar, ser solidário, entre outras coisas
se aprende com o exemplo. E se a escola não estiver preparada pra isso, continuaremos
a ver mensalões, Palace II e consultas médicas relâmpagos.
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