terça-feira, 15 de outubro de 2013

15 de Outubro – comemorar o quê?

Hoje é o meu dia! Deveria estar feliz, não é? Mas não tenho tantas razões para comemorar. Muitos dizem que ser professor atualmente é ser herói, daqueles que mata um vilão pior do que outro, dia após dia. E o pior é que esta imagem do professor-herói nos remete ao senso comum de que a profissão é quase um sacerdócio.
Lembro-me bem do primeiro dia como professor. Uma colega bem experiente me chamou em um canto e falou baixinho: “Olha, se você está aqui pelo emprego não vai dar certo. Isso aqui é um chamado!”. Seis anos depois eu já compreendo bem o discurso por trás desta ideia. Assim como um religioso que aceita seu destino de servir ao santo dever de propagar a doutrina divina, o professor deve também aceitar o seu fardo. Sim, pois é uma dádiva atender a um chamado, mas junto dele vêm as provações. O professor que recebe tal “dom” deve se contentar com essa situação e, silenciosamente, cumprir o seu destino. 
Colegas, esqueçam toda essa conversa. Somos profissionais e devemos ser tratados como tal. Chega de aceitar os problemas como se fossem naturais do ofício. Chega de acumular funções para as quais não devemos exercer. Pergunte a um engenheiro se ele decora a casa depois de pronta ou usa o martelo para reparar um defeito durante a obra. Indague se um ortopedista faz um raio X e depois engessa um membro contundido do seu paciente. Por que nós, professores, temos que ser múltiplos? Por que temos que ser psicólogos para tratar dos traumas dos nossos alunos? Por que devemos ser policiais para resolver os conflitos dentro da escola? Por que devemos ser médicos para cuidar de uma criança adoecida na sala de aula? Por que devemos ser secretários e secretárias para preencher os inúmeros papéis da burocracia nojenta que nos impõem? Por que devemos ser pai e mãe dos discentes que não tem a mínima educação em casa? Enfim, no circo escolar, estamos sendo malabaristas, trapezistas, mágicos e, sobretudo, palhaços. 
Não temos nada para comemorar, porém muito o que refletir. Somos nós que reforçamos estas imagens na medida em que aceitamos como bons cordeiros os mais diversos papéis que nos são jogados. Muito mais do que aumento de salário eu quero ser RESPEITADO. Quero ser tratado como um profissional do ensino. O restante surge como consequência desta visão. 
Professores, hoje é o dia de deixar guardada a roupa de herói e a batina de sacerdote. Não, melhor do que isso – rasgue-a! O cenário atual beira ao intolerável. A sensação que temos é que nossa condição de trabalho piora a cada ano. Sou um pouco pessimista e acho que ainda vai ficar mais crítico, até que o caos exija uma mudança. Até lá, o que eu e você podemos fazer é, amanhã, aparecer na escola com nossa roupa “normal” e gritar para todos – RESPEITO, SOU UM PROFISSIONAL!

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