sexta-feira, 11 de março de 2011

Resposta á comentário sobre "Educação pública no Brasil"

Em meio à comentários sobre o meu artigo sobre a educação pública, elaborou uma resposta que ficou tão longa que resolvi trasnformar num texto à parte.
Para entender o contexto, recomendo VER AQUI antes de continuar...



Olá "Natu Zen",

É uma satisfação ter a sua contribuição nas discussões sobre a educação pública.
Apesar de concordar com você em alguns momentos, serei obrigado a discordar de uma das suas conclusões:

"Façamos pós-graduação, e tentemos arrumar um emprego melhor numa Universidade ou sei lá onde."

Acredito que a Escola Pública tem problemas bem particulares, sem dúvidas, mas o cerne da questão não é este... o que está falido é a educação como um todo.
O que me fez escrever e continuar escrevendo sobre a escola pública é a minha realidade, muito embora tenha feito estágio e ter muitos colegas em escolas particulares e universidades.
O setor privado, na minha humilde opinião, é o pivô de toda a falência que existe na educação pública. Não acredito que o professor que se sinta insatisfeito em uma possa encontrar o paraíso em outra. Aliás, a maioria dos professores da rede particular possuem uma matrícula na rede pública. Uma escola particular tem tantos problemas (e diferentes) quanto uma pública.
Particularmente, jamais aceitaria dar aulas na rede particular. Está na minha essência criticar o que acho errado. Nas redes em que trabalho eu faço isso e colho os frutos da perseguição. Não há conquista sem luta, companheiro! Acontece que se fosse no particular eu não seria perseguido e sim demitido.
Vou contar uma breve história para tentar retrucar outra das conclusões que você coloca em seu texto:

"se a educação no Brasil é uma farsa, então nós professores seríamos farsantes ok?"

Eu trabalhei no comércio por 4 anos. Lojas de departamento. Eu vivia, portanto, no centro da chamada "indústria do consumo". Logo eu, entre a leitura de "Manifesto Comunista" e ao convencimento de que aquela roupa é o seu passaporte para a felicidade.
No entanto, mesmo sendo um profissional sucetível às pressões para vender mais e mais, alcançando cotas de premiações etc, jamais deixei de acreditar que o ser humano estava em primeiro lugar. Sempre que a situação me colocava diante do confronto "vender para ajudar a empresa" X "ajudar as pessoas" eu deixava a desejar como funcionário.
Certa vez, quando trabalhava em um cinema (com 18 anos e uma filha recém-nascida), um episódio me deu coragem para que eu gritasse para os clientes que o xarope dos refrigerantes e a salsicha do cachorro quente eram vendidos após o vencimento. Inclusive os convidei para conferirem na cozinha.
É evidente que os gerentes não deixaram ninguém entrar na cozinha (também não me lembro de alguém pedindo para conferir... devem ter me achado louco) e que eu fui mandado embora em seguida. O que seria uma demissão por justa causa foi "aliviado". Talvez a sábia decisão seja porque além de eu ter falado a verdade, havia me esquecido que o mesmo também acontecia com as tortas e outros produtos do Snack Bar.

Voltando à escola, não é porque eu sei que as coisas estão erradas que eu sou conivente com elas. Aliás, seria se não as denunciasse.

A única alternativa que tenho, meu caro colega, para me ver livre dos problemas que enfrento na educação pública é simples: abandonar a sala de aula (seja ela onde for).

Porém, é exatamente isto que "eles" querem.
Nas palavras de Matin Luther King:

"O que me preocupa não é o grito dos maus.
É o silêncio dos bons."

Um comentário:

Anônimo disse...

"A única alternativa que tenho, meu caro colega, para me ver livre dos problemas que enfrento na educação pública é simples: abandonar a sala de aula (seja ela onde for)."



Bom, Luis...

Então chegamos a um consenso rsrs. Se o problema é da educação como um todo - e é, há pouco estive lendo um artigo sobre o problema da educação em Portugal - então é melhor largar mesmo.

Talvez reste a Academia - em que o docente só dá aulas um dia da semana - mas, ainda assim, há que se ter em mente que ali, se está cercado por uma ideologia extremamente agressiva (embora se diga democrática) e de cunho doutrinário-ideológico.

Segunda-feira agora estou largando as minhas aulas.

Sozinho eu poderia fazer muita coisa: colher um abaixo-assinado de TODOS os alunos com quem discuti a problemática da escola, e levar para o juizado de menores, onde a "vossa excelência" teria como testemunha toda a escola dizendo que a diretora chama os alunos de vagabundos e as alunas de biscatinhas. E com isso, esse pessoal safado da gestão escolar seria demitido.

Não estou brincando. Estou dizendo que EU SOZINHO consigo fazer isso nas escolas em que dou aulas, ou seja, consigo fazer a minha parte.

Agora, eu sozinho não posso mudar o mundo. O professor está acomodado, essa é a verdade. O pessoal da APEOPESP só ensinou a greve e a briga com gente grande, como o governo e o secretário da educação.

Porém, o professor deveria sabe de outras formas de mobilização.

São vários os culpados incluindo os marxistas que inspiraram esse tipo de escola democrática...

Falta de união... o governo usa uma estratégia perversa: cria mecanismos de atribuição de aulas em que figuram, no processo de atribuição, várias categorias de professores, o que coloca uns contra os outros.

Assim, amigo Luis, enquanto estamos nós aqui indignados discutindo e apontando oerne da problemática, saiba que, na sala de aula há muitos professores (incapacitados muitas vezes e medíocres) satifeitos em dar suas aulas a fim de obter os vencimentos no fim do mês.

São em geral mulheres, que, casadas, desejam ter sua independência financeira. Porque, em toda escola que eu vou eu só vejo mulher mandando: é mulher na secretaria, na diretoria, na sala de aula, na inspetoria etc.

Eles te tratam como se você fosse um faxineiro de última categoria. Diretoras e vice-diretoras de escola ligam aqui em casa com com autoritário dizendo que eu tenho que ir até à escola dar as aulas.

Não respeitam a tua titulação (elas mesmas tem um diplominha de pedagogia e só isso) e nem enquanto pessoa mesmo.

Pois, o prof. que se submete a esse tipo d tratamento fazer o q?

Quanto a mim, penso como vc: se não há como mudar, então o certo é parar.

Abçs,

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