domingo, 8 de janeiro de 2012

A conquista da quietude

Por Dorrit Harazim (texto editado)


“Não é de hoje que profissionais de áreas criativas tentam conciliar a sedutora tirania da era digital com pelo menos um nanossegundo de tempo, espaço e silêncio para pensar.
Três anos atrás, nos Estados Unidos, um doutorando da Universidade da Carolina do Norte inventou um programa que permite ao usuário bloquear o acesso de seu computador à internet por um período de até oito horas. O marketing do software, espertamente batizado de Freedom (liberdade), tinha alvo certo. “Freedom te liberta das distrações, te devolve o tempo [de que você precisa] para escrever, analisar, criar”, proclamava o anúncio.
Em apenas uma geração, o estado de exaltação diante do inebriante ganho de tempo e expansão do conhecimento proporcionado pela era digital começa a ser mitigado por quem se sente sufocado ou distraído pelas demandas ininterruptas da conectividade.
Em recente ensaio sobre a urgência de uma desaceleração em benefício de se ter mais tempo e espaço para pensar, o escritor e ensaísta britânico Pico Iyer observa que a revolução da informação veio sem manual de instrução. E portanto ainda não sabemos fazer uso adequado dessa ferramenta que alterou o ritmo de nossas vidas. Iyer aproveita para recorre a Blaise Pascal, que atribuía todos os problemas do ser humano á nossa incapacidade de ficarmos sozinhos e calados num quarto. “Distração é a única coisa que nos consola de nossas misérias, embora seja ela a maior de nossas misérias”, filosofou o pensador francês já no século 17.
Victor Hugo, autor de clássicos como “Os miseráveis”, tinha por hábito escrever nu; cabia a seu mordomo esconder as vestimentas do patrão para impedi-lo de sair às ruas antes de concluído o tempo que ele se alocara para escrever.
Na área da educação, dúvidas também se amontoam. Poucos meses atrás, Diana Senechal, membro do Conselho de Ensino público de Nova York, soou o alarme ao analisar o desempenho dos alunos de primeiro ano das faculdades públicas da cidade: 75% precisavam de aulas de reforço. Em um estudo recente, “A república do ruído, Senechal fala da perda de quietude por parte dos estudantes – a perda da capacidade de pensar e refletir de forma independente sobre um tema, em meio a tantos aparelhinhos que piscam, vibram, chamam, cujas minitelas se alternam ininterruptamente e geram um vazio semelhante à saciedade.
“Os alunos não aprendem mais a lidar com momentos de dúvida, eles se habituaram a produzir algo o tempo todo. Somos uma nação grudada em smartphones e telas de computador, checando e-mails e alimentando tweets.”
Senechal não advoga jogar IPads e IPhones no lixo nem prega o isolamento sem rumo; apenas reivindica uma vida tecnológica que contemple a formação de ideias e a prática da quietude.
Algumas grandes corporações buscam alternativas para prevenir, entre os seus funcionários, o que é conhecido como uma sigla – a ITSO, ou “incapacidade de desligar”, em inglês. Para as quatro letras adquirirem status de mais uma síndrome do mundo moderno, sujeita a tratamento médico e processos trabalhistas, é um pulo.

Um comentário:

aninepinheiro disse...

Olá Prof.
Cheguei no seu blog, procurando textos sobre a educação publica. Tb sou de Volta Redonda e tenho um blog, no caso sobre maternidade.
Fiz um texto sobre a escola pública, quero escrever mais e achei que sua opinião reflete aquilo que eu penso.Para isso peço sua autorização para reprodução dos seus textos na no meu blog, com citação é claro.
Tb gostaria da sua opinião lá!
O link é http://experienciadecadadia.blogspot.com/2012/01/escola-parte-i-de-algumas.html

obrigada,
Anine

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